Hoje, o dia foi dedicado à causa da Diabetes, uma doença muito grave e muito mais comum do que podemos imaginar.
Não entrarei no mérito de pesquisas e dados estatísticos, falarei de um caso concreto ocorrido, ou melhor, que está em curso, com uma pessoa do centro de meu convívio. Não será divulgado o nome a título de preservação da identidade deste meu querido companheiro, já posso até dizer amigo.
Me obriguei a parar de fazer meus afazeres para escrever este texto, pois estamos vivendo juntos as consequências graves desta doença, e não pode ser somente uma 'lição' para mim ou para o doente, penso que divulgando podemos ajudar mais casos semelhantes.
Um simples calo no calcanhar mal cuidado abriu-se em uma pequenina ferida; daí para frente, desenfreadamente, o organismo, sem dar conta do combate à bactéria, o caso foi se agravando.
O doente nem sentia. Certo dia, um colega de trabalho me chamou indignado, dizendo que eu precisava falar com o doente, pois o mau cheiro estava insuportável no vestiário, e só o doente não sentia.
Quando pedi para o doente retirar a bota, não sobrou uma pessoa no vestiário; o mau cheiro de carniça tomou conta do ambiente. Imediatamente questionei o funcionário do que se tratava. Ele, na maior calma, disse que era apenas um machucado e que estava cuidando. Na hora, percebi que o assunto ali era grave e fiz contato com um tio doutor que me passou todas as instruções.
O doente partiu do serviço com um colega para o hospital das clínicas, onde não recebeu atendimento, uma vez que o caso não era nem urgência, muito menos emergência. O colega então levou o doente para uma UPA perto de sua residência, onde recebeu os primeiros atendimentos e foi encaminhado para o hospital.
Chegando no hospital, lá o doente ficou quase 20 dias; tudo estava descontrolado: pressão, diabetes e a bactéria devorando sem dó nem piedade seu calcanhar. A equipe médica decide então retirar o que foi devorado pela bactéria e inicia mais uma fase desta luta.
O foco agora era fazer fechar com enxerto o vazio deixado pela extração da parte podre. Mas as condições vasculares estavam prejudicadas. Mesmo assim, arriscou-se, ou era isso ou a amputação era certa. Na verdade, nesta altura do campeonato, o risco era maior para a amputação do que para uma recuperação.
A esperança é a última que morre. Novamente, recorro ao tio doutor pedindo ajuda e recebo a indicação de uma médica vascular referenciada. Agendamos uma consulta particular, e a doutora emite o prognóstico. Mesmo cuidando muito bem, temos 80% de chance de não conseguir recuperação.
O prognóstico estava correto; passados 20 dias, a amputação foi inevitável.
A velocidade dos acontecimentos foi impressionante; se tivéssemos demorado mais, hoje, quem sabe nem a outra perna ele tinha mais. Foram apenas dois meses, em dois meses tudo mudou.
Mas será que foram somente 2 meses?
O ponto principal deste relato é este: não, não foram os últimos dois meses o problema, foram os últimos 20 anos que o doente não levou a sério a doença, não tratou de fato, não cuidou.
Hoje, coitado, ele está pagando sim, está sem uma das pernas, sem conseguir se locomover, utilizando fralda, dependendo da família para as necessidades básicas.
E a família que dependia dele? Como está?
Este assunto serviria para outro texto, pois o que estou vendo diariamente são pessoas que estão dando tudo que podem dar para ajudar o próximo, no caso o doente, e quando digo tudo, é tudo mesmo, pois imaginemos uma faxineira que tem um salário de R$ 900,00 doar para o doente, por liberalidade, mais do que 10% de seus proventos, só por humanidade? Temos também todos os outros que também contribuíram, o que demonstra que o mundo não está tão perdido assim.
Mas voltemos ao doente, ou melhor, à doença. A diabetes é perigosa, e não leva desaforo; se for desprezada, ela pode destruir a sua vida e a vida de todos ao seu redor.
O recado que fica é cuidado, vigilância, para não destruir a sua vida e a vida dos que dependem de você.
Míledi Brasil
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